Diálogos na cidade: Criciúma e o seu rio - parte 1

Jorge De Sousa Guerra

A cidade de Criciúma tem sua história ligada a dois pilares que são propagados ao longo do tempo e que até hoje permeiam uma série de ações voltadas a ratificar a cidade como sendo um marco da extração carbonífera, por um lado, e pela busca da manutenção da memória dos processos migratórios, por outro, sendo que esta perspectiva visa manter em constante destaque, o trabalho realizado pelos imigrantes de vários países que vieram em diferentes períodos da história para atuarem no processo de desenvolvimento de várias cidades do Estado de Santa Catarina.

Porém, há uma série de referências a respeito das memórias que constituíram a cidade, seja na definição do padrão construtivo com elementos oriundos da contribuição dos imigrantes, e que se adaptaram a forma de compor a riqueza do conjunto arquitetônico local, seja por locais específicos como o Parque dos Imigrantes; o Museu Augusto Casagrande; a Catedral São José no centro da Praça Nereu Ramos; a Mina de Visitação. Todos são lugares que registram a história da cidade, todo um conjunto de elementos constitutivos da memória, mas, acreditamos também que se faz necessário falar com um pouco mais de atenção, a respeito do rio Criciúma, que se apresenta como outro elo de ligação com esta história. Sendo assim, de acordo com uma série de materiais gentilmente cedido a este blog pelo Centro de Memória e Documentação da UNESC - CEDOC, analisamos recortes de jornais, matérias escritas em sites locais, imagens antigas da cidade, enfim, o que nos chama a atenção é o fato de que apesar de nestes materiais terem sido encontrados todo um acervo que diz respeito a questão do rio Criciúma - rio que está atualmente “escondido” em quase sua totalidade por conta das construções ao longo do tempo, sentimos falta de ratificar junto à população, a importância deste rio para a cidade. Pensando além de uma questão geográfica da localização do rio, queremos aqui chamar a atenção para a questão ambiental, ou seja, existem algumas ações que buscam efetuar a limpeza da nascente do rio e permitir dessa forma que a vegetação ao seu redor seja revitalizada mas, além destas ações, temos que buscar junto ao poder público, a implementação de projetos que possam de fato despoluir o rio, reordenar as redes de esgotamento, retirar os resíduos que poluem cada vez mais os leitos dos rios que cortam a região, para que possamos, no futuro, ter uma qualidade de vida melhor se houver essa integração da cidade com os recursos naturais para que se promova o bem estar de toda a população. Nós estamos esquecendo da importância do rio.

As construções que escondem o rio fizeram parte do projeto de desenvolvimento da cidade e, por esta razão, não é mais possível, visualizar o rio que passa, por exemplo, por baixo de várias ruas da região central da cidade, o que nos levou a demonstrar em imagens a localização destas ruas trazendo para a discussão, as questões em torno da possibilidade de recuperação e preservação ambiental. A invisibilidade do rio parece estar em desacordo com o desenvolvimento de várias cidades pelo país e este fator, interfere diretamente na falta de políticas públicas voltadas a despoluição e cuidados mais significativos com os recursos naturais. No caso da cidade de Criciúma, o rio que esta passando por baixo de boa parte da área central onde muitos de nós circulamos todos os dias, realizando as mais diversas atividades, sem nos darmos conta de que há um rio que corre sob nossos pés. Muitas pessoas já não lembram do rio por não haver mais notícias de inundações como a que foi veiculada em jornais nos anos 70 que relatavam danos causados pela elevação do nível do rio, como neste trecho a seguir: “Sempre foi e continuará evidente o poder da natureza apesar de sua técnica o homem é sempre pego desprevenido” - Tribuna Criciumense, 06 de abril de 1974.

Várias ações de reordenamento da cidade e obras de contenção corrigiram um problema estrutural permitindo a continuidade da vida de todos os moradores da cidade mas, de um outro modo, o rio ficou esquecido, escondido, poluído.

Em nome da visão de progresso, da manutenção do título de cidade multi étnica e da falta de políticas ambientais mais incisivas é que atualmente chamamos, neste blog, a atenção do leitor para um rio que existe, que ainda sobrevive apesar de tudo, e que faz parte também da história da cidade de Criciúma.

A rua Álvaro Catão se estende desde o calçadão do centro de Criciúma até as imediações do bairro Santa Bárbara.

Rua localizada nas proximidades do Angeloni Center conhecido supermercado da cidade.

A rua Venceslau Brás está localizada no Bairro Operária nova onde tem um antigo clube importante para o contexto social da História da cidade.

Outro ponto da nossa cidade é a rua Artur Pescador localizada no Bairro Santa Bárbara próxima ao Super mercado Giassi.

Dialogando com Clio: mãos à obra!

a) Faça uma pesquisa identificando outros rios nos quais tenham sido realizadas ações de despoluição permitindo uma integração destes rios com o cotidiano destas cidades.

b) Em sua opinião, o rio que corta a cidade seria mais valorizado caso fosse despoluído e tivesse alguns pontos onde pudesse ser apreciado pelos moradores e também pelos visitantes?

c) Em várias cidades pelo país existem rios que foram despoluídos e passaram a fazer parte novamente do cotidiano destas cidades, até mesmo com trechos navegáveis. Se você pudesse contribuir para o processo de recuperação do rio da sua cidade, diga de que forma se daria essa contribuição.

d) Imagine que você foi um dos escolhidos para fazer parte de uma comissão que vai atuar no processo de recuperação do rio Criciúma então, coloque suas ideias em prática e dê algumas sugestões para evitar que o rio seja mais agredido com poluentes.

REFERÊNCIAS

Tribuna Criciumense, 06-04-1974 (acervo do centro de documentação e memória da UNESC – CEDOC, Criciúma)

SIDRA – SISTEMA IBGE DE RECUPERAÇÃO AUTOMÁTICA. Censos demográficos com a população de Criciúma - SC. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&c=200 Acesso em: 17 mai. 2019

PEREIRA, J.C.; MOLINERI, A. Experiências com microbacias em Santa Catarina. Resumo da mesa redonda. 5º Simpósio Nacional de Controle da Erosão. Anais... Boletim de Campo. Bauru, SP. p. 85-88, 1995.

NASPOLINI, A. F. Criciúma, orgulho de cidade: fragmentos da história de seus 120 anos. Criciúma: [s.n.], 2000.

https://leismunicipais.com.br/SC/CRICIUMA/ANEXO-lei-ordinaria-7604-2019-004715.pdf , acesso em: julho de 2020.

CAROLA, C. R, Dassi. N. Era Uma Vez o Rio Mãe Luzia. 1 ed. Criciúma: Editora Unesc, 2014.