Entre os cacos da história: Formação Urbana e colonização- parte 1
- Seguindo Clio
- 21 de jul. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 7 de out. de 2020
Alessandra de Oliveira Tristão;
Jéssica Mendes Duarte.
Sombrio uma cidade do Sul de Santa Catarina (imagem 1), no ano de 2016 reinaugura o Circuito Cultural e Religioso, conhecido popularmente como Calçadão (imagem 2), composto por objetos e imagens selecionadas para constituir a história de formação urbana, considerando um marco importante para essa narrativa, a vinda dos imigrantes açorianos.
Imagem 1: localização

Fonte: Google Maps
Imagem 2: Circuito Religioso de Sombrio

*Lado esquerdo seção dos mosaicos; ao fundo Paróquia Santo Antônio de Pádua. Fonte:https://www.sombrio.sc.gov.br/noticias/index/ver/codMapaItem/16603/codNoticia/367393
Quatorze mosaicos são dispostos no calçadão em uma sequência que não necessariamente cria uma lógica linear, mas mescla as obras que trazem elementos religiosos e festas etc. (mosaico 1 e 2). A primeira obra vem logo depois do tear como se estivesse tecendo a história de Sombrio (imagem 2). Neste circuito foram selecionados alguns mosaicos, e os demais foram reservados para os próximos.
mosaico 1: Boi-de-mamão e pau-de-fita

Fonte: Alessandra de Oliveira Tristão 26/06/2020
"boi-de-mamão: este folguedo é uma das manifestações mais populares do litoral catarinense, cuja viagem remetem-se nas versões dos folguedos do boi no norte e nordeste do Brasil em uma tauromaquia de Portugal e Espanha, envolvendo música, canto, dança e personagens regionais em torno do espírito da morte e ressurreição do boi.
Pau-de-fita: dança popular de tradição milenar com origens em várias culturas europeias. Em Santa Catarina, o pau-de-fita consiste no trançado de fitas presas num mastro segurada por grupos de casais que dançam ao som de cantorias, sendo a coreografia popular mais cultivada pelas atuais gerações.” (PROJETO CALÇADÃO. Responsável Jone Cezar de Araújo; Acervo Pessoal Paola Vieira da Silveira)
Mosaico 2: ArraialFest

Fonte: Alessandra de Oliveira Tristão 26/06/2020
“ArraialFest, surgiu como uma forma de resgatar a tradição popular, já que o calendário escolar previa festa junina, envolvendo escolas, alunos, comunidade e a integração de todas as entidades do município.
Símbolo da Festa é chaleira ambulante, que distribui quentão uma semana antes nas ruas da cidade e durante o evento. O primeiro Arraial fest realizou-se em julho de 1993.” (PROJETO CALÇADÃO. Responsável Jone Cezar de Araújo; Acervo Pessoal Paola Vieira da Silveira)
A placa de abertura deste setor da exposição apresenta algumas informações:

Fonte: Alessandra de Oliveira Tristão 26/06/2020
A narrativa histórica teve muitas funcionalidades entre elas a de discorrer sobre a fundação de cidades. Narrativas cheias de heroísmos, feitos de bravura, enaltecendo a participação de grandes figuras, com o intuito de gerar um sentimento de pertencimento. Exemplo conhecido é a lenda romana de Rômulo e Remo, que conta de forma aventureira e heroica a formação da cidade de Roma. Os protagonistas dessa narrativa são os gêmeos Rômulo e Remo, filhos do deus Marte e de Reia Sílvia uma mortal e filha do rei Numitor; que sofreu um golpe pelo irmão Amúlio, tomando o trono e largando os dois irmãos para morrerem. No entanto, eles são salvos por uma loba que os amamenta, até serem encontrados por um pastor, sobrevivendo e crescendo em uma aldeia; após crescidos Rômulo mata Amúlio e devolve o trono a seu avô Numitor, que como recompensa lhes dá o direito de fundar uma cidade junto ao rio Tibre, sendo fundada Roma.
Ainda hoje esta estratégia de criação de narrativas fundadoras permanece, no entanto, possuem muitos equívocos, por vezes romantizando situações que foram violentas e omitindo circunstâncias desfavoráveis a imagem pública. Principalmente, quando falamos de cidades fundadas no contexto de colonização, como por exemplo Sombrio.
Como informa a placa de abertura, açorianos tiveram uma evidente participação na colonização do município.
Os açores é um arquipélago de nove ilhas localizado no oceano atlântico próximo à Península Ibérica (imagem 3). Originalmente são ilhas formadas por uma população imigrante, e durante sua história também foram impelidos a deixar as ilhas, por diversos motivos. Durante o período de colonização era de interesse da coroa Portuguesa a migração de açorianos para seus territórios coloniais, levando-a a fazer campanhas de colonização e recrutamento militares, ambas tinham o intuito de garantir terras nas suas colônias ocupando e garantindo lucros, em um contexto de imperialismo e disputas coloniais que envolvia diversos interesses políticos e econômicos.
Estes interesses do Estado se cruzaram com interesses individuais, algumas vezes de forma favorável outras vezes nem tanto. Vamos a dois exemplos: o primeiro em que a população do governo da ilha de Pico é favorável às campanhas de migração, pois devido a erupções vulcânicas que geraram estado de calamidade e miséria queimando casas e colheitas, entendeu-se que uma saída para a situação poderia ser a migração. O segundo é o caso de resistência aos recrutamentos militares e a um pedido de recrutamento de casais lavradores.
Adivinhavam-se algumas dificuldades em proceder a tal recrutamento: “o mesmo obstáculo [que se fazia sentir quanto aos recrutamentos militares] encontramos a respeito dos vinte cazaes de lavradores industriosos porque os que o são conhecidamente tendo seu estabelecimento na terra pelo apego que tem a ella, e por gênio naturalmente frouxo, e mesquinho, não querem largar o seu domicílio, nem prestar-se voluntários, ainda que se lhes represente huma melhor fortuna, e será preciso usar com elles de violência, cujo meio não manda S. Magestade por ora praticar” (CORDEIRO; MADEIRO, 2003)
Podemos perceber que no processo de imigração dos açorianos não foi sempre tranquilo e bem aceito pela população dos açores, sendo que a ideia de muitos sonhos – mencionado na placa de abertura - não se encaixava a todos, para muitos era única alternativa que lhes restavam sem poder escolher muito. Nas obras a seguir percebemos características escolhidas para serem lembradas; pessoas consideradas importantes e outras apenas com faces genéricas.
O primeiro mosaico escolhido é este:
Mosaico 3: Migração açoriana

Fonte: Alessandra de Oliveira Tristão 26/06/2020
O mosaico 3 representa a migração dos Açorianos para América do Sul, neste caso chegando primeiro em Florianópolis, e depois na região onde hoje é Sombrio. Percebemos a representação do continente africano e também dos povos Carijós. Temos também a uma figura religiosa, simbolizando o imaginário religioso cristão que vai prevalecer com a colonização e evangelização, e que constitui grande parte de toda a coleção de mosaicos:
Mosaico 4: Igreja e padroeiro Antônio de Pádua

Fonte: Alessandra de Oliveira Tristão 26/06/2020
Mosaico 5

Fonte: Alessandra de Oliveira Tristão 26/06/2020
Mosaico 6: Padre João Reitz e a Reurbanização

Fonte: Alessandra de Oliveira Tristão 26/06/2020
“Nascido em 09 de novembro de 1904, foi o primeiro vigário nomeado em Sombrio, entre inúmeras obras que realizou no município, desça-se sua reurbanização, dando um novo traçado de ruas e avenidas preparando Sombrio para um futuro promissor.
O Padre João Reitz soube lutar venceu, foi um homem que deixou um marco memorável pela sua bravura e testemunho de um espírito altamente público e evangelizador.” (PROJETO CALÇADÃO. Responsável Jone Cezar de Araújo; Acervo Pessoal Paola Vieira da Silveira)
Dialogando com Clio: mãos à obra!
Após conhecer um pouco sobre Sombrio, e apresentar algumas das obras em mosaicos que estampam o calçadão da cidade, iremos questionar um pouco essas imagens, mas também a descrição abaixo delas, que foram retiradas do Projeto do Calçadão.
a) Qual sua primeira percepção ao ver os mosaicos? Consegue apontar algo de curioso? Qual narrativa é apresentada nas imagens?
b) Como as descrições conversam com as imagens acima?
c) Conseguem perceber alguma religião expressa nas imagens? Quais? E por quais motivos elas estão estampadas em pleno calçadão da cidade?
d) Percebemos algumas caricaturas no mosaico 3, conseguem apontar algo? Como é visto o continente africano, por exemplo.
e) Em todas as obras acima, apenas o mosaico 6 apresenta o nome, um rosto, que é do padre João Reitz, por qual motivo ele foi honrado dessa forma, e os demais não? Qual a importância desse padre para a cidade?
Você sabe o que é aculturação? E por que ele é importante quando falamos de colonização?
Falar de aculturação em um contexto de colonização é algo problemático, pois não há uma troca recíproca de formas de ver um mundo, mas sim um contexto de subjugação e dominação, disputas por território e poder. Colonização há muito pouco de “humanização” e mais de opressão. Uma das coisas que pode ser percebida é de que o circuito religioso se refere exclusivamente a religião Católica, que durante o processo de colonização eram impostos tanto as populações indígenas quanto as pessoas de descendência africana. Porém, esta é uma discussão reservada para o próximo circuito desta sessão, que trará o restante das obras em mosaico do calçadão.
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REFERÊNCIAS:
ARAÚJO, Jone Cezar de (Responsável). PROJETO CALÇADÃO. Acervo Pessoal Paola Vieira da Silveira.
CORDEIRO, Carlos; MADEIRA, Arthur Boavida. A EMIGRAÇÃO AÇORIANA PARA O BRASIL (1541-1820): uma leitura em torno de interesses e vontades. ARQUIPÉLAGO • HISTÓRIA, 2ª série, VII (2003)
SANTA CATRINA. MUNICÍPIO DE SOMBRIO. Município observa feriado de Santo Antônio de Pádua. 2016. Disponível em: https://www.sombrio.sc.gov.br/noticias/index/ver/codMapaItem/16603/codNoticia/367393. Acesso em: 30 jun. 2020.
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